Uma câmera lenta. Um look coordenado. Uma trilha sonora estrategicamente escolhida. O roteiro ainda nem começou, mas o impacto já está feito. Em muitas séries atuais, o figurino não está ali só para vestir personagens. Ele narra, provoca, vende, dita comportamento. E, cada vez mais, parece ocupar o espaço que o texto deixou vago.
O figurino fala quando o roteiro cala
Com diálogos cada vez mais curtos e tramas que muitas vezes reciclam conflitos, quem está dizendo tudo sem precisar abrir a boca é o visual. Em Euphoria, por exemplo, o que Maddy veste comunica mais sobre ela do que qualquer cena de terapia. A maquiagem neon, as unhas afiadas, os vestidos colados. Tudo grita poder, ferida e armadura.

Em Gossip Girl, o figurino sempre foi parte da narrativa. Mas agora, mais do que nunca, a roupa virou argumento. Na nova versão da série, o styling das personagens diz mais do que suas falas. E em muitos casos, é o que segura o interesse do público mesmo quando a trama escorrega.
Quando o guarda-roupa vira ícone
Não é à toa que séries como Emily in Paris são lembradas mais pelos looks do que pela história. O roteiro pode ser raso, mas a estética é profundamente calculada para viralizar. Um vestido usado por Lily Collins rende mais engajamento do que a própria temporada.

O mesmo vale para The Idol, que virou alvo de críticas, mas ganhou atenção justamente pelaestética provocadora e pelo figurino construído para incomodar.
Moda como fan service
Nos tempos da televisão linear, figurino era um complemento. Hoje, virou parte da estratégia de marketing. Trailers, pôsteres, episódios inteiros são pensados para gerar prints, reels e referências no TikTok. O público espera cenas visualmente fortes. E se a história falhar, que pelo menos o outfit salve.
É como se a série dissesse: talvez a narrativa seja esquecível, mas o seu feed vai ficar incrível.
O novo papel do stylist na sala de roteiro

O figurinista deixou de ser coadjuvante. Ele virou coautor da trama. Não por acaso, nomes como Heidi Bivens (Euphoria) e Patricia Field (Sex and the City, Emily in Paris) ganharam status de celebridade. O figurino deixou de seguir a história e passou a moldá-la.
Moda como linguagem, ou como distração?
É claro que figurino tem poder. Ele constrói identidades, estabelece arquétipos, gera desejo. Mas quando o visual se sobrepõe ao conteúdo, a pergunta que fica é outra. Estamos assistindo pela história ou pelo desfile?
Talvez não seja preciso escolher. Talvez a resposta esteja no meio. Em uma narrativa que entrega os dois. Mas uma coisa é certa. Se antes a gente assistia para entender a trama, agora a gente assiste para ver o look do episódio.